Impacto cardiovascular da dengue: entenda os riscos  

Em fevereiro, o Ministério da Saúde divulgou que o Brasil se aproxima da marca de mais de 700 mil casos de dengue. Embora a doença seja mais conhecida por seus sintomas típicos, como febre alta, dores musculares e articulares, dor de cabeça e erupção cutânea, ela pode afetar diversos sistemas do corpo, incluindo o sistema cardiovascular.

“A dengue pode causar complicações cardíacas em alguns pacientes. Essas complicações incluem inflamação do músculo cardíaco (miocardite), do revestimento do coração (pericardite) e prejuízos para a função cardíaca”, explica Dr. Elcio Pires Junior, especialista em Cirurgia Cardiovascular e membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular. 

O especialista ressalta ainda que os riscos são maiores para pacientes diagnosticados com a forma mais grave da dengue, conhecida como dengue grave ou dengue hemorrágica. Essas complicações cardiovasculares são significativas devido a várias razões:

  • Permeabilidade vascular: Durante a infecção pelo vírus da dengue, os vasos sanguíneos podem se tornar mais permeáveis, permitindo que fluidos vazem para os tecidos ao redor. Isso faz com que o volume de sangue no corpo diminua, fazendo com que o coração deixe de bombear sangue para o corpo, levando a problemas em vários órgãos e colocando a vida do paciente em risco;
  • Plaquetopenia e coagulopatia: A dengue pode causar diminuição do número de plaquetas no sangue (plaquetopenia) e disfunção plaquetária, o que pode levar a distúrbios de coagulação. Isso aumenta o risco de sangramento e pode resultar em hemorragias graves, incluindo hemorragia cardiovascular, como hemorragia intracraniana ou gastrointestinal;
  • Aumento da carga viral: O aumento da carga viral pode levar a uma resposta inflamatória exacerbada, causando danos nos vasos sanguíneos e dificultando o seu funcionamento. Isso pode levar a problemas no coração e nos vasos, como abertura excessiva dos vasos (vasodilatação), pressão baixa (hipotensão) e até mesmo choque; 
  • Insuficiência cardíaca: Em casos muito graves, especialmente em crianças, a dengue pode fazer o coração falhar porque o corpo está sob muito estresse. Isso acontece quando há problemas como falta de sangue devido a vazamento dos vasos, dificuldades na coagulação do sangue e problemas nos vasos sanguíneos. 

Riscos em pacientes com doenças cardíacas pré-existentes

Estes são os riscos para quem está com dengue na forma mais grave. Porém, segundo o especialista, pacientes com doenças cardíacas pré-existentes enfrentam riscos adicionais se contraírem dengue: “Isso ocorre porque, como explicamos acima, a infecção da dengue pode sobrecarregar ainda mais o sistema cardiovascular, aumentando o risco de complicações graves”, destaca. 

Alguns dos riscos específicos para esses pacientes incluem:

Aumento do estresse no coração: A dengue pode causar febre alta e desidratação, o que coloca mais estresse no coração, especialmente em pacientes com condições cardíacas pré-existentes, como insuficiência cardíaca ou doença coronariana;

Hipotensão: Em casos graves de dengue, a hipotensão (pressão arterial baixa) pode ocorrer devido à perda de fluidos e choque, o que pode ser particularmente perigoso para pacientes com doenças cardíacas, pois o coração pode não ser capaz de bombear sangue adequadamente para os órgãos vitais;

Aumento do risco de arritmias: A febre e a inflamação associadas à dengue podem desencadear arritmias cardíacas em pacientes com doenças cardíacas preexistentes, como fibrilação atrial ou outras arritmias; 

Aumento do risco de complicações tromboembólicas: Pacientes com doenças cardíacas têm um risco aumentado de desenvolver coágulos sanguíneos. A dengue pode aumentar esse risco ainda mais devido aos distúrbios de coagulação associados à infecção, aumentando a probabilidade de complicações tromboembólicas, como trombose venosa profunda ou embolia pulmonar.

“Todos precisam se proteger contra os mosquitos e suas picadas. Mas para os pacientes que já tem problemas no coração, os cuidados são ainda mais importantes. O ideal é usar repelentes adequados, vestir roupas que cubram o corpo e não deixar água parada onde mosquitos possam se reproduzir. Além disso, se sentir sintomas de dengue, como febre alta e dores no corpo, estes pacientes devem procurar atendimento médico imediato para receber ajuda, finaliza Dr. Élcio.”

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